Depois de tantos anos decepcionando, em 2021 vamos ser surpreendidos pelo crescimento da economia acima do esperado. O PIB cresceu 1,2% no 1º trimestre do ano e retornou para o patamar pré-pandemia, bem antes das previsões que, nos casos mais pessimistas, apontavam para uma recuperação apenas em 2022. 

O desempenho mais forte vem gerando várias revisões de expectativa de crescimento para o ano, que em alguns casos chegam a mais de 5%. Mas quais são os fatores para o maior otimismo? E quais as consequências?

O cenário doméstico vem sendo beneficiado por uma demanda global maior, favorecendo os setores produtores de commodities. A agricultura e a indústria extrativa foram os destaques nesse começo de ano e devem continuar apresentando forte crescimento, como já podemos observar pela balança comercial que segue para bater recorde de US$80 bi de superávit em 2021. Pelo lado da demanda, apesar do consumo ainda estar impactado pelas restrições causadas pela pandemia, os investimentos mostram recuperação. 

Essa é uma boa notícia, pois tivemos baixas taxas de investimento nos últimos anos, que tem agora uma boa perspectiva de recuperação com a melhora no nível de poupança, queda nos juros de longo prazo e novos marcos regulatórios nos setores de infraestrutura.

As perspectivas de crescimento para o restante do ano também incluem uma retomada dos setores de serviços mais atingidos pela pandemia. Como observado em outros países, o avanço da vacinação e a resultante queda nos novos casos de coronavírus vem permitindo uma reabertura maior da economia e, com isso, a volta dos setores de serviços, que foram mais impactados pelas medidas de restrição. A maior taxa de poupança das famílias, resultado da queda do consumo em 2020, também deve contribuir para uma retomada mais forte neste ano.

Entre as principais consequências do maior crescimento está a redução do risco fiscal.  A atividade econômica mais aquecida e a inflação mais alta têm contribuído para a arrecadação de impostos mais robusta, melhorando a situação fiscal no país. Além disso, o governo vem mantendo o nível de despesas dentro do limite do teto e o custo da dívida pública segue em um patamar historicamente baixo. 

O crescimento nominal do PIB mais elevado, estimado em quase 15% este ano, será o maior desde 2009 e também contribui para a melhora na relação dívida/PIB, que pode chegar ao final do ano abaixo de 85%. Apesar de ainda ser um nível elevado, está bem abaixo das previsões iniciais de 2021 que chegavam em 92%. Essa ainda não é uma tendência e ainda voltaremos a ter déficit primário que, mesmo no cenário mais otimista, leva de 1 a 2 anos para ser eliminado.

Essa melhora conjuntural é importante e reduz os riscos principalmente associados ao quadro fiscal crítico. No entanto, ainda não pode ser comemorada como solução definitiva e a agenda de reformas precisa avançar para que esse crescimento cíclico possa se transformar em um crescimento sustentável no médio e longo prazo. 

A melhora fiscal pode significar um risco de acomodação por parte do governo e a volta da licença para aumentar gastos. O governo deve discutir no segundo semestre uma reformulação dos programas sociais, fazendo a transição do auxílio emergencial para o Bolsa Família mais robusto e abrangente, mas isso deve ser feito considerando as restrições orçamentárias e a reversão definitiva da trajetória de crescimento da dívida. E entre os principais riscos que vemos hoje no cenário está a inflação elevada que foi causada basicamente por choques de ofertas, mas nesse momento pode impactar as expectativas para o próximo ano, caso o risco fiscal não seja controlado. 

A normalização da Selic deve contribuir, em parte, para o controle da inflação, mas a confiança dos agentes econômicos na continuação do ajuste das contas públicas ainda é fundamental para que as expectativas de inflação para 2022 não se desancorem.

Uma recuperação cíclica forte com ventos favoráveis do setor externo aliada ao processo de vacinação em andamento vão permitir a continuidade do crescimento da economia brasileira no segundo semestre. Mas ainda é preciso perseverar na agenda de reformas para que possamos ver a continuidade do crescimento econômico além da retomada pós crise.

*Esta coluna foi escrita pela Economista-Chefe do Inter, Rafaela Vitória. Acompanhe ela também pelo twitter @rvitoria e pelo podcast Inter Invest. 

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